Merece atenção a entrevista que Francisco de Oliveira concedeu ao sitio Carta Maior em que o sociólogo - fundador do PT e do PSOL - analisa a crise porque passa o capitalismo, em nível mundial.
Mas além dessa análise, merece atenção os desdobramentos que sugere: segundo ele, está colocada uma grande chance do PT dizer definitivamente a que veio, guiando a superação da crise num projeto desenvolvimentista, capaz de fazer uma “nova revolução de 30”, fazer, no século XXI o que Vargas fez no século passado. A partir do papel de liderança do PT como dirigente da maioria do movimento sindical e do próprio governo, poderia operar um processo de transformação e consolidação de um projeto político-econômico realmente transformador para o país, em meio à crise mundial.
Ainda frisa que um aprofundamento do projeto transformador no país passa por o PT abrir mão de seu “oficialismo”. E critica o PSOL, ao qual chama de sectário.
Vindo de um dos intelectuais que rompeu com o PT para fundar o PSOL, a crítica merece nota. Não para qualquer comemoração de mais um indício do fracasso do projeto do PSOL, mas como mais uma confirmação de que este não consegue, de fato, dar conta das expectativas que a ele conferiu parte da militancia social e parte da intelectualidade que rompeu com o PT em meados da presente década. Tanto quanto o PT deixou de respeitar a militancia de base e a intelectualidade próxima num determinado momento de sua trajetória, o PSOL parece ter nascido com essa marca.
Em entrevista que deu também esse mês à revista Caros Amigos, Chico de Oliveira demonstra grande pessimismo. Não é para menos: a esquerda brasileira parece profundamente envolvida em duas faces de uma mesma moeda, resultado de seu próprio crescimento institucional e chegada do PT ao governo federal: de um lado um sectarismo desideologizado representado pelo PSOL, de outro uma burocratização e oficialismo assustadores que tomou conta do PT. O resultado nefasto, nos dois casos, é o mesmo: falta de conteúdo político crítico, de projeto de longo prazo, de vida partidária real. Todas as decisões passam por circulos relativamente fechados, a própria circulação de informações é falha (cada vez mais a esquerda depende de concessões e favores da imprensa cuja propriedade é concentrada da mão das mesmas famílias desde a ditadura militar, quando não antes). Assim, assistimos a um governo federal que transforma a vida de milhões de pessoas no mesmo compasso em que a esquerda parece a cada dia mais incapaz de se pensar e de influenciar realmente na disputa ideológica e de longo prazo na sociedade.
Por último, retomando o desafio de Chico de Oliveira, há que se pensar a retomada de projeto estratégico da esquerda, o que passa necessariamente por um PT dirigente, com vida partidária. E por uma movimentaçào de forças do movimento social, intelectualidade orgânica e outras expressões da sociedade progressista brasileira, capazes de construir um bloco político qualificado e forte. Talvez aí esteja o caminho para um final marcante do governo Lula e um sentido estratégico para a eleição de Dilma. A opção, no presente momento, pela inércia, o burocratismo e o oficialismo pode ser a ante-sala de uma grande tragédia que seria a vitória tucana em 2010, para uma longe noite sob a direção da elite paulista, diante de uma esquerda desarticulada, fragmentada e sem rumo. Tudo aquilo de que não precisamos no futuro. Nesse sentido, a entrevista de Chico de Oliveira lança alguns desafios que podemos e devemos enfrentar de forma urgente. Esse deve ser o sentido de 2009 para os militantes de esquerda no Brasil.
domingo, 1 de fevereiro de 2009
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